quinta-feira, 26 de junho de 2014

It's times like these, time and time again...

Eu quero escrever. Um monte de ideias na cabeça, precisando ser elaboradas... Coisa que faço bem escrevendo.

Para escrever, no entanto, preciso ler. O velho problema do tempo! Passei pelo instante de ver, estou no tempo para compreender... Freud e Foucault passam constantemente por meus pensamento nos últimos dias, enquanto tento lembrar em qual peito Miguel mamou por último e me preocupo com a hora de a Alice comer uma fruta.

O próximo post será, seguramente, sobre parto. Mas não será um relato. Não será possível simplesmente relatar... Tenho feito muitas reflexões sobre isso e as experiências dos partos que tive estão ligadas de forma que o tempo não faz muito sentido. E fazer um relato, uma narrativa que transgride a questão do tempo, vai muito além dos meus talentos de escrivinhadora de araque. É coisa para Guimarães Rosa.

O próximo post será, seguramente, em capítulos. Aos poucos que me leem, peço paciência. A experiência do parto do Miguel me transformou, sim, e tenho muito a dizer sobre isso. Não virei (nem virarei) ativista, pois tenho muito apego à(s) subjetividade(s), além de insuficiente altruísmo. Tenho mais fé é nos sujeitos.

Eu quero escrever, mas ainda não é o momento de concluir.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Das maiores dificuldades da maternidade

Além de cortar as unhas da Alice quando ela era bebê, a maior dificuldade que encontrei na minha trajetória como mãe, até o momento, foi escolher escola.

Decidimos, desde sempre, que não teríamos babá. Também não queríamos colocá-la num berçário. Minha licença maternidade foi de seis meses, emendei com mais um de férias. Decidimos que meu marido ficaria com ela meio período até o início do ano letivo seguinte. Eu tiraria férias novamente em fevereiro e ela iria para a escolinha em março, já com 1 ano e 2 meses, no maternal I, pulando o berçário.

Planejamento perfeito! Faltava achar a instituição. Seria interessante ser um local indicado por alguém conhecido, que estivesse mais ou menos na rota para o meu trabalho, para que eu pudesse levar e buscar sem muitos desvios e longo tempo no trânsito, ter os pré-requisitos básicos e óbvios como um bom espaço, segurança, ser confortável e aconchegante, etc. Além de todas essas questões práticas, há o mais importante e difícil: ser condizente com a forma que decidimos criá-la, ter a ver com o que pensamos, nossos valores, uma pedagogia que estimule a autonomia, valorize a subjetividade, mas que seja coerente, sem excessos ideológicos e que caiba no mundo em que vivemos. Em suma, vetamos todos os grandes colégios e redes, e escolas exageradamente alternativas.

Limitamos um raio geográfico e começamos a visitar escolas da região. Aí começou o sofrimento. Nos apresentavam grades curriculares; opções de atividades extras; exibiam com orgulho a área externa de 2mx2m onde as crianças tomavam sol 15 minutos por dia e a coitada da tartaruga que vivia num tanque de cimento que mais parecia uma bacia, mas com quem as crianças aprenderiam a conviver e cuidar dos animas!; nos davam tocas e protetores de sapato para visitar os berçários e salinhas das crianças menores, que podíamos observar brincando em salas cobertas por EVA e paredes de vidro, tipo aquário, mesmo; nos entregavam por escrito a proposta pedagógica e explicavam sobre o processo seletivo.

Ao final de toda apresentação, eu argumentava: mas ela tem UM ano! Recebia, invariavelmente, um olhar de dúvida e estranhamento. Não tinham ideia do que eu queria dizer com aquilo. Afinal, estavam me oferecendo as melhores alternativas para preparar minha filha para o mundo, sua vida escolar e profissional. Algumas tinham até aula de artes para trabalhar a criatividade! Eu só teria que comprar o aventalzinho para proteger o uniforme...



A madrinha foi quem salvou, lembrando da escola onde havia estudado o filho de outra grande amiga. Era exatamente na região que eu buscava, no caminho pro meu trabalho. Lembro de ela dizer que era uma escola pequenininha, mas que pareceu muito organizada. Pedi o contato à mãe da criança que lá estudara, achei o endereço e passei um dia por lá, na volta do trabalho.

Fui acolhida sem agendar horário. Me apresentaram o espaço, que mais parece uma casa de interior, com um quintalzão, árvores frutíferas, bichos (incluindo coelhos e galinhas soltos, o que me gerou momentos de pânico!). Fui prontamente compreendida, quando falei das minhas necessidades de flexibilidade de horário. A proposta pedagógica é a mais corrente na educação infantil: construtivista. Acho suficientemente boa e coerente.

Como nem tudo é tão simples, a dona da escola é hippie. Cumprimenta dizendo "paz e amor" e tem como missão de vida salvar uma serra cheia de mananciais aqui da região metropolitana. Depois de um trabalho para convercer meu marido, optamos por tentar essa escola, apesar da ideologia natureba, nada condizente com nosso lifestyle.

Bem, os astros devem ter se alinhado, o Universo conspirou e Alice é a criança mais feliz do mundo nessa escola. Come pitanga do pé, persegue coelhos, chega imunda de areia e argila, tem uma alimentação saudável, sem sequer conhecer ainda boa parte das guloseimas adoradas por quase toda criança. Como se não bastasse, está, pelo segundo ano consecutivo, com uma professora que tem formação waldorf.

A escola perfeita só atende até o seis anos. E eu já sofro em pensar que terei de recomeçar o processo de busca um dia. Como tirá-la do paraíso e fazê-la se encaixar no sistema? Como fazê-la enfrentar uma sala simetricamente organizada, com carteiras em fila e capacidade para até 40 alunos, onde vão ensiná-la a força coisas desinteressantes e que possivelmente ela só precisará para passar no ENEM, se decidir fazer uma faculdade?

A outra possibilidade, não me parece muito melhor: uma escola alternativa, onde boa parte das famílias finge apreciar e viver sob aquela ideologia, quando na verdade estão mais do que absorvidos pela pós-modernidade. Visitei uma dessas, dividindo a empolgada apresentação da pedagoga com uma mãe que se dizia muito familiarizada com a pedagogia. Ela e o marido são artistas, seus amigos são artistas, vivem uma vida diferente e querem uma criação diferente para a filha, com foco na criatividade. Cheia de adereços e penduricalhos, não largava o smartphone, me indicava desenhos animados apropriados e contava como sua filha dorme às 23h e acorda às 10h. A pedagoga repreendeu sobre o horário de dormir. A mim, encarou quase com fúria, quando disse que temos e assistimos TV, não vou fazer pão com a Alice toda noite, nem confeccionar bonecas de algodão orgânico. E não ganhei nem uma felicitação por não ter tirado o iphone uma vez sequer da bolsa, prestando total atenção em tudo o que ela disse, questionando e dando retorno sobre o que era falado. Mas tudo bem... Alice, se estudar lá, vai ser muito criativa, viver em comunhão com a natureza e comer flor de lótus!