segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Time is on my side (Yes it is)

Parece que foi ontem. Quantas vezes a gente repete essa frase na vida? Apego ao passado, nostalgia, medo do desconhecido, incapacidade de lidar com o presente ou apenas saudade boa, boas lembranças...



Toda mudança gera crise e ter um bebê gera crises quase constantes. Por crise, entendam aqueles momentos em que tudo o que era conhecido já não funciona, mudança em geral - de paradigma, de realidade, de opinião, de desejo... De ideia então, nem se fala!

Passamos nove meses com o corpo mudando todo dia. Entramos em trabalho de parto e, por algumas horas, o corpo muda a cada minuto. No período expulsivo, muda a cada segundo e, no fim dele, muda tudo! Nascem duas novas pessoas - bebê e mãe.

A partir daí, mudança vira status quo. Muda a rotina da casa, as horas de sono, a relação do casal, o tempo para fazer as coisas. Muda o período entre as mamadas, o tamanho das roupas e das fraldas, a frequência das visitas ao pediatra.

E quando você estabelece um arremedo de rotina, já consegue saber o melhor momento de ir tomar banho sem risco de o bebê acordar, ou qual posição ele prefere para mamar, para dormir... É hora da introdução alimentar, e da volta ao trabalho.

Estamos neste momento aqui: introdução alimentar e volta ao trabalho. Tudo ao mesmo tempo agora.

Como de costume nesta família, sem dramas. O pequeno parece que já nasceu comendo. Não preciso nem dar o peito depois das duas refeições que ele já faz -  o lanche da manhã e o almoço. As demais, segue no peito.

É claro, no entanto, que mesmo tendo sido tudo tranquilo nos últimos dias, na minha cabeça amanhã vai ser o caos. Uma hecatombe vai acontecer porque eu estarei afastada de casa por cerca de cinco horas e meu bebê não será capaz de sobreviver sem minha imprescindível, insubstituível, essencial presença. Como, por Odin, o pai, que carrega, troca fraldas, passeia, faz dormir, brinca, COMO ele vai cuidar do pequeno, seu próprio filho, que se acalma e ri só de ouvir sua voz, sem a minha - A MINHA - presença?

Mãe não é tudo igual. Mas mãe é tudo igual. Os noventa dias que minha mãe tinha de licença maternidade eram pouco. Os 120 dias que a maioria das mães hoje têm são pouco. Os 180 dias que privilegiadas como eu têm são pouco. Ainda que trabalhando 20 horas semanais. É muito tempo para ficar em casa, longe das atividades profissionais que amo. Mas é pouco para ficar com meu filho.

Não vejo a hora de voltar ao trabalho. Não vejo a hora de voltar pra casa.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Das conversas difíceis de se ter com os pequenos

Não tenho medo de conversar com crianças. As perguntas que muitas vezes arrepiam pais e mães, não me intimidam. Acho que não há assunto proibido. Mesmo. Basta adequar a linguagem, o vocabulário e tentar usar exemplos mais concretos, que se aproximem ao máximo à realidade da criança, de acordo com sua idade.

Alice está naquela fase de se interessar pelas diferenças anatômicas e eu nunca passei aperto. Acredito que a segurança do adulto ao responder é exatamente o que evita a criação de tabus, fantasias mirabolantes de que o assunto é misterioso, dúvidas insalubres... Respostas diretas, com naturalidade, é que fazem com que aquilo pareça algo comum e até desinteressante.

Maaaas... Tem sempre um "mas", né? Há as questões sobre religião e suas manifestações em nossa cultura. Dudu e eu somos ateístas. Do tipo não praticante, rsrsrs. Não atacamos a fé. Não cremos, mas entendemos quem crê e quem da religião precisa e se serve. Entendo que, socialmente, a fé religiosa tem um papel bastante importante, a despeito dos abusos e distorções que abundam na história de praticamente toda religião.

Como profissional de saúde mental, já tive tanto inimigos quanto aliados religiosos no tratamento de meus pacientes. Tenho em minha agenda, o número do Eclesiastes que diz que Deus criou os médicos como instrumento para tratar da saúde, blá blá blá. Dica de um pastor. Funciona!

Estava tranquila sobre essa questão de religião. Lidava muito bem com isso. Até repondo "amém" e "vai com Deus também" sem constrangimento. Digo "Nossa!" e "graças a Deus!". E então veio Alice... E a páscoa, e o Natal, e "papai do céu" isso, "papai do céu" aquilo... E o fato de que estamos mergulhados nesta cultura cristã do arrependimento sincero que a todos salva, do olho por olho, da caridade para ir pro céu, que permeia nossa língua, nossas festas, a noção de família, a política.

A singela árvore que minha mãe me fez montar com as "sobras" de enfeites natalinos da casa dela, e um providencial pinheirinho esquecido debaixo da escada


Aí é que eu me lasco e prevejo muita saia justa. Não me lembro de ter acreditado em Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa. Não foi sem custo, mas também não teve grandes repercussões psíquicas. Apenas uma falta de empolgação com o Natal. Mas a questão religiosa me garantiu muita confusão, culpa, medo. Só na fase adulta consegui me livrar disso.

Como dizer para uma pequena de dois anos que a vovó bisa está errada... Não foi Papai do Céu que a enviou pra mim? Tenho usado de perguntas retóricas. Mas quando ela perguntar "quem é Papai do Céu", onde ele está... Ai de mim!

Sobre as festas tento ensinar os bons valores. Não tento escapar ou fingir que não é com a gente. Muito menos ataco a fé alheia. Acho desrespeitoso. A minha falta de fé é atacada frequentemente e alvo de preconceito, é verdade, mas nós ateístas easy going não praticamos o olho por olho. ;)

Meus pequenos têm avós, tias e tios de fé ou de entrar na onda cultural-capitalista e não quero tirar a diversão deles. Porque é divertido caçar ovos, abrir presentes, celebrar em família!

Calar-me é concordância tácita e acrítica. Atacar é gerar um conflito interno talvez desnecessário e difícil.

Sinuca de bico, mato sem cachorro, beco sem saída. Alguém aí tem uma dica?

sábado, 1 de novembro de 2014

O dia em que quase me tornei uma psycho mom!

Logo que engravidei da Alice, percebi que há vários tipos de mãe. Assim como em qualquer papel na vida, assumimos, como mãe, um certo modus operandi que reflete, em grande parte, a postura que temos com todo o resto. O núcleo duro da maternidade, no entanto, só se forma depois do resultado positivo.

Não tem jeito... Niqui você lê o resultado do teste, sua personalidade começa a se alterar. Isso funciona todas as vezes, para quantos filhos você tiver. Cada filho traz novas preocupações, aguça a sede por informação e conhecimento, e também a curiosidade pela maternagem alheia.

Subjetividades e peculiaridades a parte, é possível categorizar as mães em grandes grupos, conforme o "grosso" de seu comportamento em relação aos filhos.

Os grupos mais comuns encontrados na internet são "azíndia" e as "menasmain", por, em certa medida, se antagonizarem sobretudo quanto à forma de parir. Mas a forma de se comportar e agir vai muito além do parto. Aliás, o parto é só um reflexo da essência da mulher e da mãe que ela se tornou após se deparar com o "positivo".

Só que o grupo-mãe (sacou o duplo sentido? Sacou?) abrange todos os grupos e impõe uma convivência. Mães se agrupam, aonde quer que você vá. Existe uma solidariedade tácita que funciona como um ímã em locais públicos. Experimente: vá com uma barriga ou criança para uma praça, parque, praia... Outra mulher vai se aproximar de você e puxar assuntos relativos a criação de filhos, comportamento infantil, gravidez, parto, amamentação, alimentação na infância, desenvolvimento bio-psico-social. Batata. Como diria Nelson.

Basta duas ou três frases ou comportamentos para você conseguir categorizar aquela mãe. Tem um tipo que me causa arrepios e que Dudu e eu apelidamos carinhosamente de "psycho moms".



As psycho moms têm como missão maior na Terra provar que você é uma mãe ruim. Não importa o quanto se esforce, você sempre faz algo errado ou de forma insuficiente. Seja para seu filho, seja por você mesma. Elas perguntam. Perguntam muito. E a cada resposta sua, uma expressão de desaprovação e um conselho de como fazer melhor. O pior é que a crítica é sempre velada, disfarçada de relato em que ela teve uma atitude mais adequada, de uma listagem de alternativas mais interessantes ou de um incentivo para que, da próxima vez, você consiga fazer certo.

Eu só percebi a existência das psycho moms depois que Alice nasceu. Todo conselho e relato na gravidez da Alice, por intrometido e absurdo que fosse, eu tomava como um cuidado, um carinho conosco, um desejo de que tudo corresse bem. Ouvia, filtrava, transmutava tudo em ouro!

Já com Alice nos braços, e na gravidez do Miguel, eu mesma fiz muita auto-crítica e acho que acabei aguçando os ouvidos. Além disso, por razões as mais diversas, travei contato e conhecimento com um número muito grande de mães e gestantes. Elas simplesmente pulularam na minha vida.

De tudo que elas tinham a perguntar e observar sobre a minha maneira de ser mãe, o parto era, de longe, o assunto de maior evidência. Pessoas que eu nunca tinha visto na vida, que não sabiam nem mesmo o meu nome, queriam saber do meu parto antes de saber minha graça. Logo eu, que tenho tanta bossa para mostrar...

Nem sei quantas vezes quase pedi perdão por ter feito uma cesárea. Perdi a conta do quanto expliquei sobre a miomectomia prévia a completas estranhas, para tentar provar que eu não era menasmain. Um sem número de vezes justifiquei o porquê de parar de amamentar a Alice com 1 ano e 3 meses. Dei muita explicação sobre a Alice não usar chupeta ou mamadeira, não comer sal no primeiro ano ou açúcar até os dois. Vi muitos olhos se arregalarem ao declarar que odiei minha curtíssima experiência com a babá eletrônica ou que eu não teria babá (das de carne e osso). Não, nem depois do segundo filho. Algumas quase engasgavam quando me ouviam dizer que eu desejava entrar em trabalho de parto, mesmo que tivesse que fazer mais uma cesárea e que, não, eu não achava parto normal algo medieval.

As menasmain são menos propensas a serem psycho, porque simplesmente são menos propensas a preocupações sobre maternagem. Principalmente a alheia. Mas elas olham com julgamento e se afastam disfarçadamente, pois acham que indianice é contagioso. Vai que da próxima vez elas decidem amamentar para além de 3 ou 4 meses... Já pensou no preço da plástica para os seios? Melhor gastar em fórmulas!

Já azíndia são, em geral, sedentas por informação. O que é ótimo, quando isso se reverte em melhoria nos cuidados consigo e com sua cria. O que ocorre é que, muitas vezes, elas querem salvar o mundo enfiando informações a machadada na cabeça alheia. Pedem descrentes que você leia e se informe, mas tratam de adiantar o assunto, caso você se esqueça da expressão "parto humanizado" até chegar em casa para pesquisar no Google. Isso afugenta demais as menasmain e faz os dois grupos se afastarem. Pior para as crianças e para as mulheres em geral.

Tenho e amo amigas índias e menas. É divertido brincar de categorizar assim, mas toda mãe é mãe. Simples assim. Fujo o quanto posso das psycho de qualquer sorte, no entanto. Mas outro dia, gente, fiz um enorme exercício de autocontrole. Por pouco, por muito pouco, não virei uma psycho mom.

Estava no centro de saúde com o Miguel. Aguardávamos o mocinho da vacina, quando chegou uma gestante. Travamos conversa de mãe, claro! Não perguntei sobre as opções dela. Tenho disciplina suficiente para não impor meus valores como muitas vezes me foi imposto os de outrem. Foi ela quem abordou o assunto do parto. Disse que faria uma cesárea porque tem 43 anos, tem uma condição de saúde que lhe impões injeções diárias na barriga e não quer arriscar. Melania, balela, enganação do seu GO, desnecessária, desinformação... Tudo isso passou pela minha cabeça numa fração de segundo. Respirei, me contive e disse que, caso tenha interesse em ter um parto normal, busque ler mais sobre o assunto e que, ao menos, busque saber sobre parto humanizado. Expliquei que passei pelas duas experiências e por isso sugiro que busque saber um pouco mais. Mudei eu mesma de assunto para não virar "a louca do posto". Enfrentei estoicamente a situação e não me converti numa psycho mom!






quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A tia Naná

Prometi um post sobre a tia Naná. Ei-lo!

Gente, eu juro que não quero fazer inveja em ninguém. Gostaria que TODA mãe no mundo tivesse uma tia Naná. Aliás, acho até que devia estar previsto o direito a uma tia Naná no Pacto de São José da Costa Rica, na Convenção de Genebra.

Alguém me disse certa feita, quando declarei que não teria uma doula no parto do Miguel, que doulas até salvam casamentos. Acredito. Mas uma tia Naná, pessoal, eu garanto: ela salva casamentos, relações familiares, a saúde mental de uma puérpera... O mundo!

Joana d'Arc é o nome dela. Poucos sabem. Naná é o apelido dado pelo irmão desde sempre. Técnica em enfermagem, trabalhou muitos anos como babá durante o dia e em CTI de alguns hospitais à noite. Depois foi trabalhar na maternidade do IPSEMG, onde permaneceu por quase dez anos e aposentou-se recentemente. Sempre no plantão noturno. Portanto, tia Naná não tem problemas em passar madrugadas acordada.

Ela é ninja com crianças! Nunca vi uma criança que não gostasse da Naná, que não dormisse com ela em 5 minutos, mesmo depois de ter passado por 72 colos aos prantos, resistindo ao sono ou com algum incômodo. Acha TODA criança linda e se derrete toda por qualquer pequeno.

Não bastasse ser minha tia, é também minha madrinha - de batismo e casamento... Bônus extra de carinho pelos meus filhos. 

No batizado da Alice, há dois anos


Tia Naná sabe ajudar qualquer puérpera a amamentar. Sabe truques para aliviar os desconfortos - foi ela quem me ensinou a usar casca de mamão quando meus seios começaram a ferir logo que Alice nasceu. Sabe massagens para as cólicas dos bebês, drenagem linfática para aliviar as pernas pesadas pela retenção de líquidos das gestantes, massagem  relaxante para aliviar as dores nas costas das mamães cansadas. Não se intimida com choro de bebê, adora brincar com os pequenos e é, de longe, a pessoa mais disponível e capaz de se doar que eu conheço.

Eu juro: ela é de verdade! Passou 10 dias na minha casa quando Alice nasceu. Duas semanas quando Miguel nasceu. Sempre que preciso, deixo os pequenos na casa dela ou peço que venha para a minha. Quando era só a Alice, até fiz viagens curtas, de um ou dois dias, enquanto ela ficava na casa da tia Naná. 

E este ano, curtindo férias conosco
Ah, ela é super crafty também. Toalhinas com nome da criança bordado? Ela faz. Babinhas? Idem. Enfeites para as festinhas hand made que eu amo? Também.

Tia Naná merecia ou não um post pra ela? Fosse eu minimamente mística, diria que ela é um anjo! 

Toda mulher deveria ter uma tia Naná!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Padrão Yorke de Qualidade e escala Alice: Festival Saci



Entusiasta que sou de eventos para o público infantil, mais ainda, para toda a família, sobretudo em espaços públicos, resolvi que vou escrever avaliações sobre tais eventos aqui no blog.

Em BH tem crescido, em número e qualidade, as programações do tipo. O line up tem sido cada vez melhor, mas a estrutura ainda é regular e, bem fraquinha, é a postura do público.

Estivemos, Alice, Miguel e eu, na Praça do Papa para os shows do Armatrux e Palavra Cantada, terça e ontem, respectivamente. Vamos às impressões:

Espaços para oficinas e show bem divididos, sinalizados e limpos (!) - ponto para a produção. Havia cadeiras na área do show, em número bem razoável. Banheiros químicos e, acreditem: fraldário! Quem tem bebê sabe da importância e raridade desse tipo de estrutura em eventos, privados e principalmente públicos. É bem verdade que o fraldário consistia em mesa e pia, além de duas poltronas que serviam muito bem para amamentação. Ou seja, ainda não é o ideal, mas é um grande passo para quem sai com bebês.

Os banheiros químicos estavam em bom número, mas concentrados em local um pouco afastado dos shows. Isso significa não ter tempo hábil para levar uma criança pequena, atravessando a multidão e correndo morro abaixo. E banheiros químicos, convenhamos, não são muitos fáceis de se levar uma criança. Ainda é preciso pensar em estrutura mais adequado para eventos voltados para famílias e crianças. Não sei se já existe, mas inventarão caso cobremos, certo?

Havia, nos dois dias, apenas uma barraquinha de alimentação, com uma única opção, não muito adequada, ainda mais para crianças menores. Na terça, na hora do show, não havia mais água gelada. Na quarta, não havia QUALQUER bebida. E o calor era muito, muito intenso. Tive que recorrer aos tradicionais carrinhos da praça. Por sorte estava acompanhada e pude deixar as crianças enquanto andei bastante para comprar água.

Os shows foram praticamente impecáveis. Da escolha do line up à pontualidade. O som, embora de muita qualidade, teve momentos de volume muito alto, incomodando algumas crianças. Mais na terça do que na quarta. Mas imperou a animação, além do carisma de ambos os grupos e a interação com o público. E o cenário é demais, né? A praça é linda e bastante agradável. Mesmo com o enorme público de quarta, acomodou muito bem todos os presentes. Com o palco situado numa ampla área plana, foi uma delícia curtir as apresentações.


O público... Esse tem muito a aprender. Ainda jogam lixo no chão, não cedem cadeiras a quem realmente precisa delas, fecham passagens e não se importam em atrapalhar a visão de quem está atrás. Entre crianças quase sempre há uma ótima socialização e, entre mães, prevalece a solidariedade, felizmente!

Em suma, excelente programa!

A palavra de quem realmente importa:

Na escala Alice, o show da Palavra Cantada obteve avaliação máxima:


Miguel, quando perguntado, respondeu: Angu.


Na avaliação geral da cooperativa Yorke, o Festival Saci obteve 4 estrelas.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Como estragar a vida do seu filho desde o útero

Tive duas grandes decepções esta semana. A primeira foi com Dudu Jorge, ex aquele lindo, minha esperança (ainda que remota) de um dia ter um Mujica brasileiro, em que pese nós brasileiros não merecermos um Muijica. Ele declarou apoio ao aécio (que não merece letra maiúscula) e partiu meu coração. Senti-me traída, magoada. Rancorosa que sou, não esquecerei nunca viu, Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho?! NUNCA!!!

A segunda foi com a Humanidade, pela capacidade de produzir produtos absurdos, nonsense e maquiavélicos. Gente, juro... Quando vi esse sistema de educação pré-natal, julguei que tinha perdido a razão de vez. Estava alucinando, tinha lido errado, sonhava. E TEM GENTE QUE COMPRA! Nesse passo, os quase 700 reais vão fazer falta daqui a seis anos, quando a criança for ingressar em Harvard.



Eu preciso urgente renovar minha fé na Humanidade. Acho que seu eu ler a biografia da Madre Teresa, do Dalai Lama, do Arafat... Nem assim a Pollyanna em mim será ressuscitada em curto período. 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Vamos falar de política?

Você fala de política com seus filhos? Política é coisa de criança, de adolescente, de estudante, de profissionais, de mãe e pai, de morador de rua... De todo mundo. Não há idade ou condição na vida para começar a se interessar por política. Nunca é cedo demais para inserir seu filho nas conversas sobre o assunto.



Coisa chata é gente que diz não gostar de política. Como se ela fosse coisa apenas de políticos, e só acontecesse dentro das casas legislativas, dos palácios de governo...

A política está no nosso cotidiano. Diz respeito à forma como vivemos, como atuamos no mundo e, claro, o que ensinamos a nossos filhos. Política é assunto SEU, e meu, e de crianças também.

Lembro-me nitidamente de viver com euforia as eleições de 89. Tinha apenas 12 anos, mas percebia que algo grandioso estava acontecendo. Na minha lógica "Atlético x cruzeiro", queria entender a dicotomia Lula x Collor, e quem eram aqueles outros "menos importantes". Me divertia, por exemplo, a musiquinha do Afif (atenção para o risinho "How are you doin'?!" no fim!)... "Juntos chegaremos lá. Fé no Brasil! Com Afif juntos chegaremos lá." Acompanhada da versão em libras!

Tive sorte de ter adultos a minha volta, que valorizavam meu interesse, que tentavam me explicar o significado daquilo tudo e da relevância para nossa vida prática. Claro, meu entendimento ainda era superficial, mas suficiente para sair pelas ruas distribuindo santinhos do Lula, ajudando a fazer e distribuir lanche no comitê, para os voluntários de campanha. Em 94, aos 16, enfrentei 6 horas de fila para fazer meu título e votei com muito entusiasmo.

Para mim, as atuais eleições presidenciais são muito paradigmáticas. Tanto quanto as de 89 - as primeiras diretas após a ditadura, e as de 2002 - que elegeram Lula. Isso porque, pela primeira vez, há dois candidatos que gostaria ver eleitos, ainda que sem chances, e uma que considero, pelo menos, satisfatória. Nunca antes na história deste país!

Igualmente interessante é que os dois partidos que vêm polarizando nas últimas eleições estejam em franco declínio, embora de maneiras distintas: o PSDB perdendo força e credibilidade por falta de proposta clara e resultados objetivos; o PT, origem de boa parte dos candidatos, que vem sofrendo uma espécie de diáspora - políticos com ideologias que não cabem na nova postura do partido e querem se manter mais à esquerda. Dois fenômenos interessantes que, a meu ver, apontam para um bom caminho, uma renovação na política partidária do país.

Nossos filhos, quando puderem votar, seguramente terão diante de si um cenário bastante distinto e, acredito, melhor, mais amadurecido. Cabe a nós apontar o bom caminho, dar o exemplo e mostrar que política não é "coisa chata", alheia a nossa vida e nosso dia-a-dia. Que é responsabilidade de todos e dela depende vivermos bem coletivamente.

Fale de política com seus filhos! Fomente as discussões e o interesse deles pelo assunto. Isso também é educar, cuidar do futuro e construir um mundo melhor.

sábado, 20 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - ParteVII: Somewhere over the rainbow.

"Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade 
De aceitá-la tal como é, e essa visão 
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança."

(Trecho de "O haver" - Vinicius de Moraes)


Parte final. Excessivas partes, mas não poderia deixar de fazer um balanço. Foram partos muito distintos, da Alice e do Miguel, separados por tanta coisa -sobretudo informações, que resulta impossível não fazer uma avaliação dessas diferenças e seus efeitos. Subjetivos e práticos.

Sinceramente, não sinto remorso, culpa, revolta, nem mesmo tristeza em relação ao parto da Alice. Ainda que saiba, hoje, quão diferente (e melhor!) poderia ter sido. Foi o que dei conta, o que pude naquele momento. O parto foi um dos eventos de nossa história juntas. Uma história de tanta cumplicidade, tanta alegria e beleza, que me torna uma pessoa melhor a cada dia.

Melhor o suficiente para mudar esse evento, o parto, na minha história com o Miguel. 

Sinto-me aliviada e muito feliz por ter trabalhado por um parto diferente, o mais próximo possível do que, hoje, acho que um parto deve ser. Por ter podido oferecer ao Miguel, uma recepção tão suave, em que eu e Dudu participamos ativamente, sem intermediários. Apenas com apoio - carinhoso, com amor, baseado em evidências e tudo o mais que havia de melhor a nosso alcance. 

Alice me fez mãe... Mais tolerante, mais curiosa, mais interessada em fazer do mundo um lugar melhor, mais feliz. A minha vida ficou muito melhor e maior. Mudei para ela e por ela, mas uma mudança ainda ego-centrada. 

A preparação, a mudança de perspectiva, a tomada de consciência que culminaram no parto do Miguel, tal como relatei nesta mesma série, me tornaram uma pessoa melhor de forma mais ampla, mais universal. Vivi epifanias no pós-parto, que teriam sido impossíveis tivesse outro parto dentro do sistema vigente.

Nasceu em mim a consciência e um imenso desejo de que todo parto deveria ser assim, o que hoje chamam de parto humanizado, mas que deveria ser apenas... Parto. Não estou falando, obviamente, da via de parto, se com ou sem intervenções de qualquer sorte. Estou falando de parto respeitoso, com as intervenções apenas que se fazem imperiosas - incluindo aqui analgesia, se for desejo da mãe, uma vez que cada uma sabe de seu limiar de dor e os limites de seu corpo.

Ter vivido um parto natural, against all odds, foi maravilhoso, sim! Me tornou melhor, sim! Mas, mais uma vez, de forma subjetiva. O que me tornou uma pessoa melhor para o mundo, foi o tipo de assistência recebida. Foi ter sido escutada sem julgamento e crítica por uma amiga; ter recebido dela sugestões e indicações, para que eu as usasse a meu tempo e a minha maneira, sem cobrança. Foi ter sido recebida por um médico, já no fim da gestação, que me apontou outro caminho, mas depositou em mim a responsabilidade (e os louros!) pelo tipo de parto que teria, me oferecendo subsídios para a construção de uma outra história. Foi ter encontrado na enfermeira uma parceira para fazer acontecer da melhor maneira possível, ainda que não soubéssemos exatamente como.

Tornar-me mãe foi, sem dúvida, a maior e melhor transformação na minha vida. Tornar-me mãe, pela segunda vez, sendo protagonista no parto, potencializou tudo o que a maternidade me trouxe de bom. Me tornou uma mãe e uma pessoa melhores.

Ao mesmo tempo, toda essa experiência me trouxe angústia. Por saber que experiências assim são exceção. Por ter sentido na pele o que passam, no pós parto, as poucas mulheres que, sem recursos financeiros, conseguem um parto respeitoso no SUS, mas acabam em enfermarias lotadas, com atendimento, estrutura e condições precárias. Por saber que poucas são incentivadas a buscar um parto fora do sistema e que, as que o fazem, precisam de muito investimento - de energia, desejo, e dinheiro mesmo. Por saber que a luta por partos humanizados muitas vezes se confunde com uma briga mesquinha, entre quem defende cesárea como opção e quem defende parto normal/natural. Por saber que a informação só chega a quem procura muito, e às vezes chega de forma tão panfletária, que mais repele do que atrai e efetivamente informa.

Se existe um sentimento bittersweet, é o meu em relação ao parto humanizado. Descobri Pasárgada, queria que todos vivessem ali, mas o caminho é tortuoso e a passagem é muito, muito cara. 



Não quero sair por aí "convertendo" ninguém, mas me sentirei muito contente em poder dividir minha experiência com quem quiser ouvir. Poucas coisas me dariam mais satisfação do que poder ser uma agente transformadora na vida de alguma mulher que, tomando conhecimento da minha experiência, decida e busque seu próprio parto-paraíso. Porque toda experiência de parto deveria ser linda! Aqui, agradeço mais uma vez a Daniela, que foi essa agente transformadora pra mim, para o Dudu, para a Alice e, sobretudo, para o Miguel! Graças a ela somos todos melhores hoje.

Também transformador é encontrar profissionais que praticam a clínica da escuta, não somente do olhar; que assistem, se necessário, não apenas tratam; que cuidam de sujeitos, não de sintomas. Serei sempre grata ao Dr. Lucas, por sua confiança e certeza tão sem arrogância e tão embasadas, quando nem eu mesma confiava tanto assim. Por nos revelar coisas que nos pareciam tão distantes e misteriosas, com tamanha intimidade e leveza, como quem fala das coisas mais banais e corriqueiras. Aquele jeito de surfista que acabou de chegar do mar, como quem não se apercebe das coisas mundanas, que muito nos divertiu, ajudou a desmistificar e simplificar todo o processo. Incrível sua capacidade de ser fundamental e desnecessário! O próprio Mágico de Oz.

Last but not least, também imprescindível para toda essa experiência foi o encontro com Míriam Rêgo. Mais do que prestar serviços de enfermeira obstetra, ela nos ouviu e acolheu, com nossas ignorâncias mas, sobretudo (e apesar delas), com nossas certezas cheias de soberba. Se colocou, para nós, como uma companheira de jornada, disposta a construir e descobrir o caminho, mas de maneira tão segura e tranquila, que seríamos incapazes sozinhos. Vou sempre associá-la a Blimunda, essa mulher fantástica, personagem de Saramago, capaz de ver e recolher as vontades das pessoas, para que um dia sejam o combustível da Passarola, um sonho louco, que depende da ciência, da arte e do sobrenatural para voar. Assim como a luta para que o parto humanizado se torne uma realidade cotidiana no Brasil.

Obrigada ainda a você, né? Que teve paciência para acompanhar, integral ou parcialmente, esta enorme série de posts sobre um percurso tão life changing para mim. Como escrevi quando compartilhei o primeiro post no Facebook: escrevo e compartilho para que, talvez, alguém se beneficie dessas experiências, como eu me beneficiei de tantas outras. 

Mulheres do meu Brasil, calcem seus sapatinhos vermelhos e sigam a estrada de tijolos amarelos! We are not in Kansas anymore.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte VI: It is time for stormy weather!

A bonança veio antes da tempestade. Depois de um parto idílico, um pós-parto infernal! Não sei porque Cérbero não nos aguardava na porta da enfermaria. 

Parir num hospital público, onde acontecem cerca de 900 partos/mês, leva ao risco de ir parar numa enfermaria com 7 baias, lâmpadas fluorescentes acesas 24h, muito barulho, entra e sai, muito desconforto, um sem número de protocolos, nenhuma privacidade e atendimento precário.

Tive que permanecer internada 48h após o parto, ainda que tenha tido um parto normal, por ter uma cesárea prévia. Foram 48h terríveis. 

O hospital estava muito cheio e acabei parando numa enfermaria que, a despeito de ser para quem teve parto normal, só tinha mulheres que passaram por cesáreas. Isso significa horários para remédios, horários para banho... Horários que podiam ser no meio da madrugada. Também significa mais visitas de profissionais que, para examinar as mães, pediam a todos os acompanhantes homens que se retirassem, ainda que fosse no meio da madrugada.

No dia seguinte, fizeram ajustes para acomodar as mães em enfermarias adequadas. Ou seja, trocaram todas as minhas coleguinhas. Como era a única a ter tido um parto normal, fui a única a permanecer. Entra e sai de pessoas se acomodando nas baias. Mais apresentações. Pais, mães e avós querendo exibir os rebentos.

Tive edema e dor no períneo. Mesmo com a prescrição da enfermeira, demorei cerca de três horas para conseguir uma compressa fria - uma luva de procedimentos com água gelada. Também senti dor na região do corte da cesárea, mas não recebi qualquer atendimento. Apenas a técnica responsável pela enfermaria conversou com a enfermeira, que falou para me dar o analgésico mais forte, que já estava prescrito, mas só é ministrado se a paciente solicita. 

Dr. Lucas, nosso surfixxta favorito, estava de plantão no domingo a noite e foi me ver. Com a tranquilidade peculiar de quem passa horas no mar esperando a onda perfeita, chamou o edema que estava me matando de edemazinho, dizendo que era (adivinhem!) normal. Avaliou o sangramento e disse que estava ótimo, que minha recuperação estava ótima. Rsrsrs. Prescreveu um spray para o períneo, fez uma piadinha sobre a rapidez do parto, observou que escapei de uma cesárea desnecessária (e juro, sem nenhum ar de "eu te disse! Eu te disse!), e saiu flutuando, deixando cheiro de maresia. 

Eu estava exausta, Miguel ficou estressado. Na segunda madrugada, estava acompanhada pela tia Naná (já citada algumas vezes nesta série), que revezara com o Dudu. Ela é técnica em enfermagem, acabou de aposentar-se e trabalhava justamente na maternidade, no IPSEMG. A presença dela aliviou, e muito, todo o desconforto da situação.

A técnica de enfermagem da enfermaria onde eu estava emendou dois plantões e estava prestes a completar 24h em serviço. Já é complicado trabalhar ali em condições normais de temperatura e pressão, após tantas horas, não há paciência e amor à profissão que salve, né? Por volta das quatro da madrugada, Miguel estava mamando há mais de duas horas. Tirei ele do peito e ele começou a resmungar. O local estava relativamente calmo há cerca de meia hora e o choramingo tirou a técnica do controle. Ela logo veio me dizer, tentando ser educada, mas visivelmente nervosa, que o protocolo era de livre demanda. Repetia tensa "livre demanda! Livre demanda!" Até comecei a argumentar, mas logo percebi a inutilidade. Deitei-me com ele (não que houvesse opção, pois o bebê fica acomodado na cama da mãe) e o acalmei, sem precisar colocá-lo novamente no peito. 

Na baia em frente, estava uma menina de treze anos. Havia parido um bebê prematuro e teve tantas lacerações que mal conseguia sentar-se. Lutava, desde a tarde anterior, para fazer o bebê, muito agasalhado e enrolado num cobertor (fazia bastante frio), pegar o peito e aprender a sugar. Ninguém a orientara a desagasalhar um pouco a criança, colocar em contato com sua pele. Aproveitei as profissionais ocupadas na hora dos banhos dos bebês e ajudei-a a recostar-se na cadeira, ficando mais confortável, abrir a roupa, tirar o cobertor da menininha e colocá-la bem próxima de si. Cobri as duas com o cobertor. 

A técnica que foi auxiliar no banho dos bebês ficou impaciente porque eu quis dar no balde. Nos deixou por último. Quando terminei, a menina me chamou para mostrar que a bebê estava mamando. Tinha conseguido pegar os dois peitos.

Passamos, Miguel e eu, por uma série de protocolos e avaliações pela enfermagem, fono, pediatra. Miguel precisou fazer um exame de sangue, porque eu tinha tido infecção urinária e o exame após o término do tratamento não tinha ficado pronto antes do parto. Tive palestra sobre aleitamento. Minha tia teve palestra para os acompanhantes. Perdi uma refeição porque Miguel estava mamando. É proibido comer na enfermaria. A comida é boa, o refeitório cheio e com filas. Levei um monte de coisas - lanches e água - que acabei distribuindo na enfermaria. Eram pro longo trabalho de parto, lembram?

Na segunda-feira a tarde, finalmente alta! Enfrentar o anel rodoviário minutos antes do jogo do Brasil pela Copa. Poucas vezes me senti tão feliz em voltar pra casa! Melhorou a dor, o ânimo, a disposição, o cansaço...

There is no place like home

Fisicamente a recuperação é muito mais rápida, fácil e confortável. Novamente não tive qualquer dificuldade para amamentar. A fisio sugeriu algumas sessões para o períneo, por causa das lacerações. A dor nas costas é muita, agora que são dois pequenos para carregar.

Na consulta do quinto dia, Miguel estava muito amarelinho. Precisamos voltar ao Sofia para mediar a bilirrubina. Só de pensar na possibilidade de ter de ficar novamente no hospital, tive vontade de chorar. Felizmente a taxa estava abaixo da recomendada para foto. Novo teste no dia seguinte, havia baixado consideravelmente. Acho que nada me deu tanto alívio na vida... Por ele estar fora de risco, principalmente, e por não precisar viver aquela experiência hospitalar infernal de novo.

O segundo puerpério foi mais difícil. Pelas dificuldades próprias do momento; por ter Alice ainda bastante dependente, descobrindo a novidade de ter um irmão e ter de dividir meu tempo e minha atenção; porque as pessoas parecem acreditar que precisamos de menos ajuda, por já termos passado por isso; porque o cansaço é maior... Me senti mais frágil e passei por muitos momentos em que achava que não ia dar conta. Senti que tive menos apoio, menos visitas, ficando mais sozinha com meus dois pequenos. 

Ainda é difícil. Ainda tem horas que bate certo desespero, em situações que parecem de um filme de comédia. Estamos criando nossas rotinas, nossos meios de lidar com as dificuldades. Estamos aprendendo a conviver, dividir, esperar, ajudar, ter mais compreensão e paciência... A ser uma família de quatro pessoas e um cão. Consoante meu desejo!

Comprometer-se com o desejo dá trabalho, mas nos torna psiquicamente mais saudáveis. Ou felizes, para ser mais senso comum. 

No frigir dos ovos, love is all you need! 


sábado, 13 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte V.II: Heaven, I'm in heaven.

Tantas palavras para um parto tão rápido... Sigamos!

Meus pais ficaram responsáveis por levar Alice para a casa da minha avó, para ficar com a tia Naná, que ela adora, e a única pessoa com quem ela já passou a noite fora de casa. Ela estava bem e feliz. Nada de cunho prático a resolver... Era tempo do Miguel.

Chegamos ao Sofia! Ufa... Miguel não nasceu em trânsito. Desci do carro quase engatinhando, descalça, e novamente a Míriam lembrou-se dos chinelos. Acho que ela não curte muito pessoas descalças. Ou pode ser que andar sem sapatos por um hospital não seja a melhor das ideias.

Perdi a compostura na porta do hospital, ouvi um "joselito" dizer: tá sangrando aí..., e fui amparada por uma senhorinha muito gentil, que disse palavras de incentivo e apoio. Atitudes assim são tão reconfortantes, né? Me contou que era doula e havia sido treinada pela Míriam, que depois contou que ela se chamava Aparecida e que, mesmo antes de haver doulas no Sofia, acompanhava um monte de gestantes ao hospital, inventando parentescos para ter acesso. Nunca vou me esquecer do gesto carinhoso dela com uma desconhecida.

Sabia o caminho da suíte, aprendido na visita guiada com o Lucas. Firmei o corpo e rumei obstinada. Algumas pessoas falaram algumas coisas no caminho. Não tenho ideia do quê. Já estava na fase expulsiva, já sentia os puxos desde que saímos do anel rodoviário. Só pensava que Miguel não podia nascer no corredor. Não depois de termos conseguido chegar ao hospital, né?

Na porta da suíte, um enfermeiro avisou que não estava pronta. Entrei assim mesmo. Acho que estava na tal partolândia. Ouvia e entendia tudo, mas agia instintivamente, de forma tão decidida, que nem eu mesma conseguia me parar, rsrsrs.

Quando terminaram de forrar a cama, a Míriam sugeriu que eu esperasse ali, enquanto a banheira se enchia. Me agarrei ao arco e a partir daí senti uma tranquilidade (não calma), que o mundo podia desabar. Estranhamente não pensei em analgesia em nenhum momento. De qualquer forma, acho que nem era mais possível.

Sabia que o momento do nascimento estava muito próximo, já não me preocupava com a possibilidade de rotura, estava segura de que Miguel chegaria de forma natural. Digo que não estava calma, pois tive pressa. Agora que o parto normal, mais que isso, o parto natural, era uma realidade, queria logo tê-lo em meus braços. Fiz muita força. Acho que essa pressa foi o que me custou algumas lacerações.

Não era mais dor o que eu sentia. Mesmo. Eu que nunca acreditara nisso quando lia relatos de outras mulheres. Os gritos, os sons, não eram de lamúria. Acho que eram quase um chamado e uma forma de catarse... É muita energia envolvida. Nada daquilo era sofrimento.

O plano de parto, nem sei se levamos, não pode ser lido pela equipe do hospital. Não houve tempo. Se tivéssemos podido terminar a playlist, seguramente Miguel nasceria ao som de Accelerate, do R.E.M.

Tudo estava como eu quis. O ambiente estava muito acolhedor e tranquilo, apesar da correria. As conversas eram amenas, as janelas foram parcialmente fechadas e estava uma penumbra gostosa. Havia duas pessoas da equipe do Sofia, um enfermeiro cujo nome não me lembro, que cuidava de encher a banheira, pegar os materiais necessários; e uma enfermeira de nome Joana d'Arc, impossível de esquecer, por ser o nome da tia Naná (que em breve terá um post só dela).

Eduardo tinha ido estacionar o carro e descer nossas coisas. Logo chegou e não soltou mais minha mão. Os dois profissionais do hospital se mantiveram mais distantes, em que pese sempre acolhedores. Até o momento do nascimento, me lembro de sermos eu, Dudu, Míriam. Me lembro de muita leveza, tranquilidade, alegria.

Não sei quanto tempo estive agarrada ao arco. Míriam me avisou que a banheira estava cheia. Não sei se tirei o vestido nesse momento ou se já estava sem ele. A força era involuntária. Logo senti o círculo de fogo. Ouvi quando a Míriam avisou que já avistava a cabecinha e perguntou se eu queria tocá-la. Não quis. Novamente tive pressa e fiz muita força. Daí pra frente foi muito rápido.

O nascimento propriamente, foi uma das melhores sensações que já tive, física e emocionalmente. Lembro da voz da Míriam me dizendo que estava nascendo, lembro de senti-lo saindo completamente, lembro de olhar para o Eduardo, da voz da Míriam novamente, doce e muito alegre, dizendo que ele nascera. Eram 15:15. E pausa.

...

O tempo parou. Silêncio. Éramos só nós dois. Olhei, vi, reparei (1). Peguei, aninhei, cumprimentei. Aquele olhar... Ah!, que minha memória tanto ama, imperecível (2). Nos entendemos de imediato. Não tenho ideia do que aconteceu em volta, nem por quanto tempo estive admirando, sorridente, aquele bebê apressadinho, que pousava agora, tranquilo, sobre mim.



Com a experiência de um parto cheio de procedimentos e protocolos, perguntei se podia amamentá-lo. A resposta positiva veio da Míriam e da Joana d'Arc, ao mesmo tempo. Foi só posicioná-lo e ele soube instantaneamente o que fazer. E ficamos assim, por mais de uma hora. O cordão quase parara de pulsar quando Míriam perguntou se podia cortá-lo. E quedamos os dois na banheira, muito tempo.

O que se seguiu depois está meio embaçado em minha lembrança. Sobretudo no que se refere à passagem do tempo.

Joana d'Arc veio me fazer algumas perguntas de praxe para preencher os papéis, quase desculpando-se por incomodar. Não incomodava. Nada incomodava. Eduardo foi fazer a admissão. Fui para a cama ainda com Miguel no peito. A placenta saiu com uma pequena ajuda da Míriam, que examinou-a e disse que estava tudo bem. Não a quis.

Miguel não recebeu colírio, não foi esfregado ou banhado, tomou a vitamina K mamando. Eu não quis a injeção de ocitocina. Foi pesado no quarto, com o Eduardo acompanhando. O enfermeiro o vestiu. Ficou conosco todo o tempo. Qualquer coisa nos era explicada e perguntada. Era nosso momento, nossa experiência.

A Míriam precisou dar alguns pontos, por causa das lacerações. Me ajudou a tomar banho e me vestir. Foi-se quando estávamos os três, esperando um leito vagar para liberar a suíte. O hospital estava muito cheio.

Ficamos os três, na cama, aguardando. Sem médicos, sem ninguém dando instruções ou cumprindo inúmeros protocolos. Ficamos os três, nos conhecendo. Os planos mais elaborados não contemplariam tanta satisfação, tanto ajustamento aos meus desejos e ao nosso jeito de sermos nós, e só nós, em momentos assim. Éramos risos, carinhos, contemplação, e amor que não cabia.

(1) - Referência à frase do Livro dos conselhos, que serve de epígrafe ao Ensaio sobre a cegueira, de Saramago.
(2) - Referência ao poema Para o Zé, de Adélia Prado.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Top 5 maiores absurdos da contemporaneidade contra crianças

Quem acha nonsense colocar um bebê de um ano para se chafurdar num bolo (leia-se: farinha branca, açúcar, corantes, etc.) para ter fotos fofas? o/

Quem acha não menos nonsense travestir o tal "smash the cake" com aura mais natural, colocando um bebê de um ano para se chafurdar em frutas, com o mesmo intuito de ter fotos fofas? o/

Bebês não deveriam se chafurdar em comida, em minha singela opinião. Não passa uma mensagem muito legal a quem está aprendendo a se relacionar com o mundo, numa fase em que o relacionar-se com o mundo se dá primordialmente pela boca.

Essa é só uma das modas que me deixam meio encabulada no que se refere ao lido com crianças. Reuni aqui as cinco que mais me impressionam:

1 - Ensaios "smash the cake" ou "smash the fruit" (Aaaaahhh... Mas é tão fofo!);

Depois vão reclamar se eu mantiver essas dobras...

2 - Festas mirabolantes - em limousines, ônibus, spa (Porque crianças com pais que as colocam pra dançar em veículos em movimento, e beber refrigerante em taças de champagne enquanto andam em um carro de luxo, de fato precisam desestressar.);

3 - Spa para bebês (Essa descobri hoje. Não tá fácil pra ninguém.);


4 - Escola de princesas (Sim, gente, é real. Uma menina precisa saber como se comportar, afinal!);

5 - "Coleira" para criança (Sério... Se você conseguiu manter seu filho vivo até ter idade suficiente para andar e correr, tenho fé que é capaz de viver sem esse acessório!).

Ele entende os comandos em inglês e português!


*Imagens retiradas da internet.

Poderia incluir ensaios da revista Vogue Kids, mas a lista já estava fechada!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte V.I: Take Five. Ou como Miguel chegou chegando.

Eu não queria um parto mais emocionante, no tempo do Miguel, sem muitos planejamentos e orquestrações - mais jazz e menos música de câmara? Pois bem, vocês lerão o relato de uma jam session em que eu, Miguel, Dudu e Míriam deixaríamos The Dave Brubeck Quartet morrendo de inveja!

Se todas as cartas de amor são ridículas, todo relato de parto é sentimental. Vamos ver o que consigo fazer com o epíteto de "coração de pedra", dado pela madrinha de Miguel.


Vamos lá...


Eu já havia feito uma lista mental de tudo o que faltava deixar pronto para a chegada do Miguel. Ainda havia algumas roupinhas para lavar, guardar tudo, arrumar nossas malas... Essas eram as mais urgentes. Também faltava fazer uma longa playlist - já que o trabalho de parto podia durar bastante tempo; e plantar as sementinhas de girassol, que virariam as mudas que pretendia dar de lembrança.


Tive uma consulta com o Dr. Lucas na segunda, dia 16/06, com 38 semanas. Marcamos de fazer um ultra no Sofia na segunda seguinte, às 39 semanas. Daí pra frente, acompanharíamos semanalmente. Novamente ele nos explicou sobre a evolução do trabalho de parto, suas fases, etc., e reforçamos o plano de ação: 1 - Contrações ritmadas a intervalos de 5 minutos, ligar para a Míriam e para ele; 2 - Acompanhados pela Míriam em casa, seguir para o hospital quando estivesse com 4 a 5cm de dilatação, avisando o Lucas. OK... Parece simples. Tudo dominado!


Na terça tivemos uma sessão com a fisio. Aprendemos um monte de posições para alívio da dor nas contrações, possíveis posições para o parto e Dudu foi doutrinado em massagens, auxílio na respiração, o que não falar. Foi uma sessão bem divertida. Ouvimos algumas músicas que certamente estariam na playlist, dançamos, recebi massagens que aliviaram bastante as dores nas costas, treinamos a massagem para o períneo que deveríamos fazer até o dia do parto.


Na quinta, fui possuída por um espírito "fazedor", organizado e prático. Virei a própria Micaela Góes. O cansaço dos dias anteriores parecia ter subitamente desaparecido. Lavei e guardei todas as roupas que faltavam; troquei as roupas de cama do berço por um jogo limpo, previamente separado para receber o bebê; dispus os cosméticos em seus devidos lugares no banheiro ou no trocador; passei álcool no tummy tub; separei roupas de banho para o bebê; conferi e atualizei a lista de compras.


O espírito seguiu em mim na sexta. Arrumei nossas malas e a pasta de documentos. Repassei o check list. Faltava a playlist e as lembrancinhas, além de algumas compras que ficariam a cargo do Dudu... Cuidaria disso no sábado.


À 0:20 do dia 21/06, dia em que completava exatas 39 semanas de gestação, comecei a sentir contrações moderadas, em intervalos irregulares, mas pequenos. Não consegui ficar deitada. Andava pela casa. Estavam bastante suportáveis. Baixamos um app para monitorar o TP... Hahahaha.


Por volta da 1:00, Alice acordou e foi para a minha cama. Duas horas depois de terem começado, as contrações pararam. Dormi até as 4:00, quando as contrações recomeçaram, mais brandas e mais espaçadas do que anteriormente. Por vezes ficava quarenta minutos sem ter nenhuma. Por vezes vinha uma mais forte e parava novamente.


Foi assim durante toda a manhã. Imaginei que estivesse nos pródomos, dada a irregularidade e pouca intensidade das contrações. Possivelmente Miguel chegaria no domingo ou segunda. Comecei a fazer a lista de músicas. Dudu foi ao supermercado comprar biscoitos, chocolate, água de coco, algumas coisinhas que faltavam para levar ao hospital... O trabalho de parto logo começaria. Tolinha!


Ao meio dia, fomos Alice, Dudu e eu, à casa da minha mãe, que fica ao lado da minha, para almoçarmos. Terminamos o almoço e fui lavar as mãozinhas e rosto da Alice. Estava nisso quando a bolsa rompeu. Assim, sem mais. Nenhuma contração, nada. Rompeu. Eram 12:55. Chamei Dudu, entreguei Alice e veio uma contração muito forte. Logo mais uma. Pedi que ligasse pra Míriam e disse que iria para casa, tomar um banho. A essa altura, tudo que era para ser levado para o hospital já estava preparado. Até a roupa com que iria estava separada. A personalidade obsessiva que se apoderou de mim cuidara de tudo.


Andando para casa, parei umas duas vezes com fortes contrações. O caminho não deve ter 50 metros. Entrei no chuveiro e as contrações se intensificaram e pareciam cada vez mais próximas uma da outra. Dudu veio dizer que a Míriam estava a caminho, que disse que estava perto e passaria para avaliar (Soube depois que estava cortando o cabelo perto da minha casa. Providencial, não?!). Comentou que o tom era de que não havia motivos para pressa... Como se fosse apenas avaliar por segurança. Pensei que, se o parto ainda estava longe, o TP seria bastante difícil de enfrentar, já que as dores estavam bem intensas.  Pensei ainda, que talvez parassem em algum momento, como aconteceu de madrugada, mas intuía que Miguel já estava querendo nascer. Já não pensava que seria domingo ou segunda.


Dudu perguntou se deveríamos usar o app... Hahahaha. Tentou as massagens que eu mais tinha gostado no nosso "treinamento para o TP" com a Sabrina. Odiei todas. Curti as que havia menosprezado anteriormente. O que mais aliviava mesmo era a água. Água cura, gente! Sempre achei que um bom banho, quente e demorado, salva de qualquer coisa: mau humor, tristeza... Até câncer. Dizem de gente mal amada, eu acho que tem é gente mal banhada!


Quando tive uma trégua, fechei o chuveiro com a intenção de me secar e me vestir. Dei um passo e não consegui mais sair do lugar. Caí de quatro no chão e assim permaneci, gemendo a cada contração, tentando me concentrar na respiracão, até que Dudu apareceu, seguido pela Míriam, que me olhou e disse algo como "Oi, Pollyanna! Já está forte assim?". Só consegui assentir com a cabeça e me concentrar de novo na respiração. Ela pediu que eu avisasse quando conseguisse me levantar e ir para a cama, para que pudesse avaliar a dilatação.


Num intervalo entre contrações me levantei. A Míriam ainda lembrou-se de forrar a cama com uma toalha, coisa que nunca passaria pela minha cabeça nesse momento. Ela fez o toque... 8 cm. Com uma voz inacreditavelmente calma e tranqulizante, me disse que chegaríamos ao Sofia com o bebê nascendo.


Desde que ela chegara, qualquer preocupação desapareceu. Nunca tive outra parteira para dizer se é do ofício, mas desconfio que seja dela... Sentia tamanha segurança, que era impensável tomar qualquer decisão sem sua opinião. Havia a questão do risco de rotura uterina devido à miomectomia. A essa altura, de acordo com os planos, era pra eu estar no hospital, sendo monitorada há algum tempo. Agora tínhamos de decidir entre um parto domiciliar não planejado ou enfrentar estrada e anel rodoviário rumo ao Sofia. Mal consegui perguntá-la se achava que deveríamos ficar em casa mesmo, ainda a caminho do carro. A resposta "dá tempo", embora com voz tranquila, soou mais como "é melhor estar no hospital".


Me lembro da Míriam perguntando se eu queria que ela fosse no carro comigo ou nos seguisse no carro dela. Acho que respondi apenas "comigo". As ideias eram super elaboradas nesse momento, mas as respostas saíam monossilábicas, quase um grunhido. Me lembro de ainda estar um pouco de posse de mim mesma, pois dava um monte de ordens pro Dudu - pega isso, não esquece aquilo, tal coisa está em tal lugar. A Míriam o ajudou a colocar tudo no carro e ainda se lembrava de detalhes como... Chinelos! ("...And you don't give a further thought to things like feet / Let's get happy")



Já no carro, adverti Dudu que dirigisse com muita cautela dentro do condomínio, por causa do calçamento. Previa que não seria fácil sentir contrações sacolejando. Ficar sentada era insuportável, então a Míriam me orientou a ajoelhar-me no banco, virada pra trás, de modo que Dudu só via a minha bunda quando olhava pelo retrovisor. Considerando que essa foi a posição que escolhi para parir, acho que ela se preparava para a eventualidade de ter de receber Miguel dentro do carro... Incrível sensibilidade de parteira experimentada! Estando eu e Eduardo sozinhos, eu jamais pensaria em ir desse jeito; possivelmente ia tentar ir na frente, com o cinto de segurança - Esclareço que não estava vestindo minhas smart clothes, ok? Não as fabricam para gestantes. Mais uma sugestão salvadora.
Não conseguimos contato com o médico. A Míriam mandou uma mensagem e fomos, tão rápido quanto possível, para o Sofia. A própria Míriam fez contato com o hospital para reservar uma suíte. Para dar mais emoção, porque um TP a jato e o risco de a criança nascer no anel rodoviário eram pouco, não conseguia falar no hospital. Ligava para a Casa de Parto e pedia para transferir, a ligação caía, ligava de novo, auscultava o bebê, indicava o melhor caminho ao Dudu, me acalmava, me dava a mão pra eu apertar durante as contrações... Tá, o parto é da parturiente. Mas já deu pra perceber que Dudu e eu estaríamos screwed sem ela, né? O mais provável é que terminássemos em uma cesárea no Vila da Serra, que é o hospital mais próximo, com o plano de parto (que só ela lera) pisoteado. 

Míriam Rêgo no parto do Miguel. Porque assobiar e chupar cana é para os fracos!

Tá grande, né? Vou dividir a parte V. Seguimos com o parto no sábado!







segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte IV: A preparação.

Adoro ter irmãos. Desde muito nova, havia decidido ter mais de um filho. Planejamos ter dois e não queríamos uma diferença de idade muito grande.

Em março de 2013, Alice tinha um ano e dois meses, parei de amamentar. Queria um ou dois meses de folga - tomar um vinho em um jantar, por exemplo - para então começar as tentativas de engravidar de novo. Meados de julho, sofri um aborto espontâneo. Estava de sete semanas.

Tristeza, um monte de dúvidas, insegurança... E medo. Tinha colocado na cabeça que, se não engravidasse até o fim do ano, não iria mais tentar - por causa da idade, pela propensão a desenvolver miomas (colocada na minha cabeça pela GO da época em que os descobri). Comecei a pensar em adoção. Apressada? Eu?!

Em outubro, novo teste positivo. Mesmo médico. Iniciamos o pré-natal. A gravidez ia muito bem... Exames de sangue, ultrassonografias. Tudo tranquilo, tudo ótimo.

Pela metade da gestação, comecei a pensar mais no parto. Pensava se, mesmo tendo que me submeter a outra cesárea, a experiência do parto não poderia ser menos fria, menos orquestrada.

Foi aí que tudo começou a mudar. As consultas de pré-natal e as conversas com o médico apontavam para uma nova cesárea agendada. Eu não tinha expectativa de um parto normal. Não após uma miomectomia e uma cesárea, justificada por tal cirurgia anterior.

A cesárea em si, sequer me incomodava, apesar de ter odiado o pós-operatório. Porque, sim, é um pós-operatório, em pleno puerpério. Mas tudo bem... Havia indicação clara para cesárea. Mas não havia indicação para não entrar em trabalho de parto, para ter uma experiência menos asséptica de parto, havia? Era uma pulga atrás da orelha. Dudu e eu começamos a falar disso.

Conversei muito com uma amiga, Daniela, que vivenciou um parto humanizado pós cesárea. Essas conversas foram muito esclarecedoras e me levaram a um monte de pesquisas e leituras, a mais conversas, a ver "O renascimento do parto", a ficar mais tolerante com o ativismo nesse sentido e a perceber que existe um "ativismo esclarecido", rsrsrs. Eu havia conhecido mulheres intolerantes, que julgavam, que pouco atuavam efetivamente, mas que sempre tinham uma crítica na ponta da língua. Mulheres que, sob o discurso de "empodaramento", pareciam querer mesmo é se apoderar do parto alheio.

Essas conversas com a Daniela me levaram a um outro médico. Um profissional com um discurso e, principalmente, uma postura tão diferentes, que mudaram completamente o rumo das coisas. Comecei até mesmo a vislumbrar um parto normal.

Saímos da primeira consulta com esse médico dispostos a viver uma experiência completamente diferente, ávidos por novas informações, com os olhos mais abertos. E também com a música de abertura do "Baywatch" na cabeça... Porque o Dr. Lucas parece recém chegado de uma temporada no rancho de Laird Hmilton no Hawaii.

Marcamos com ele de ir conhecer o Hospital Sofia Feldman e, durante a visita, já estava decidido que o parto seria ali. Já era um caminho sem volta. A cada nova consulta com o Dr. Lucas, mais informações e maior a noção do absurdo que vivemos no parto da Alice. Se o parto do Miguel seria normal ou cesárea, ainda não sabíamos, mas seguramente seria um parto humanizado.

O médico reforçou uma indicação que a Daniela já havia nos dado, de uma enfermeira obstetra. Trocamos alguns emails antes do encontro com sua equipe. A Míriam me informou que, a despeito da confiança do Dr. Lucas na possibilidade de um parto normal, a literatura (ao menos no Brasil) aponta que cirurgias uterinas (exceto cesáreas) prévias são indicação para parto cesáreo. Chegamos a questionar a necessidade de contratar a equipe.

Conversando pessoalmente, chegamos ao consenso de que o ideal seria, sim, ter o acompanhamento da equipe durante o trabalho de parto, nos dirigir ao hospital mais cedo do que normalmente as parturientes vão, e ir acompanhando mais de perto o TP. Qualquer intercorrência, o bloco estaria do outro lado do corredor.

A Míriam me enviou resumos de artigos americanos, que corroboravam o que o Dr. Lucas vinha dizendo sobre a possibilidade de parto normal pós miomectomia. Assisti a um monte de vídeos indicados pelo médico, até não aguentar mais ver vaginas de outrem e quase desistir de seguir assistindo quando uma mulher pariu cercada por golfinhos... Foi "alternatividade" demais pra minha cabecinha "meio intelectual, meio de esquerda"; busquei muita informação em blogs; li muitos relatos de parto; fiz duas sessões de fisioterapia com a Sabrina, também indicada pelo Dr. Lucas, para preparar o períneo e aprendermos, Dudu e eu, técnicas de alívio da dor durante o TP (aliás, indico demais para quem quer um parto natural). Mesmo com todo o arsenal, confesso que não estava tão certa da possibilidade de um parto normal.

Reclamei de ter de escrever um plano de parto, sob o argumento de que, se queria algo menos planejado, pra quê escrever um plano? Escrevi mesmo assim, e vi o quanto ele ajuda na preparação para o parto, no sentido de organizar o pensamento, sistematizar os desejos e vontades, avaliar o quão informada eu estava, ter noção do que ainda precisava preparar.

Mais uma vez, devo agradecer às ativistas de fato. Recorri a vários de seus planos de parto, que me levaram a novas informações e a entender o quanto poderia melhorar a experiência do parto para mim, para o Miguel e para o Dudu. Usei como modelo o da Dani, que havia me enviado por email. "Tucanei" menos do que imaginei, pois estava bastante decidida sobre a maior parte das coisas, e muito segura.

Na reta final, estava tranquila. Entrei de licença maternidade quando completei 37 semanas. Agora era esperar o tempo do Miguel, e não uma data específica na agenda. E essa espera, gente, é deliciosa!

Devo muito dessa sensação às pessoas que citei neste enorme post: Dudu, Dani, Lucas, Míriam e Sabrina. A força, a vontade e a busca parte da gente; mas ter esse apoio, ter em volta gente informada, acolhedora, tolerante, e que acredita que o parto é da vida, não um evento médico, é fundamental para dar segurança e leveza.

E, no próximo post, conto para vocês sobre o parto!


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Meu apego aos significantes e os nomes dos meus pequenos. Ou S >>>>>> s.

O amor pelos significantes precede meu interesse pela psicanálise. Vem da infância, eu acho, quando já prestava muita atenção em como os nomes "vestiam" as pessoas. Não à tôa, um dos meus livros infantis favoritos foi "Marcelo, marmelo, martelo". Adorava o menino que cismou com o nome das coisas.

"- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?"
Alice está na fase deliciosa de inventar palavras, perguntar o significado e o por quê de tudo... Os significantes concretos, colados no significado! Me divirto muito com os "Mãe, eu sou muito ajudadeira, né?", ou "ele (o smile do sapato) está "ismai"ando". E a carinha de confusa quando descobre que uma mesma palavra pode nomear duas coisas diferentes?! Passa dias especificando de qual significado está falando: a manga fruta, a manga da blusa. Delícia!

Me esbaldo com os usos magistrais dos significantes na literatura. AMO o fato de a protagonista do "Vidas secas" se chamar Vitória, e a cadelinha Baleia. Não preciso nem falar da minha paixão por Guimarães Rosa, né? Ou das mulheres de diferentes gerações em "Casa dos espíritos" se chamarem Clara, Branca, Alva (ou Alba?).

Hoje estava lendo um post num dos blogs de mães que acompanho, e me peguei divertida com o fato de o primogênito da autora se chamar Benjamim.

Nunca procurei saber o significado do nome dos meus filhos. De Miguel, aliás, não sei até hoje. A Alice ganhou um quadro com o significado, então eu fiquei sabendo. Escolhi ambos pela sonoridade e pelo que o significante tinha de significado subjetivo.

Alice, para mim, é aquela menina curiosa, capaz de estranhar, mas conviver com a maior naturalidade com as coisas mais diferentes, mesmo que de outro mundo. Corajosa e com muita vontade de conhecer. Não se conforma com qualquer resposta e adora invencionices. Vocês não imaginam a alegria que me dá vê-la correndo atrás de coelhos na escola! Rsrsrsrs. A minha pequena Alice é a Alice do meu imaginário.

O nome do Miguel foi muito difícil de escolher. Eram poucos os nomes de menino de que gostávamos, e nunca chegávamos num consenso. Dos meus maiores ídolos literários, não queria os nomes - José (Saramago) e Gabriel (García-Márquez), e Dudu não queria João (Guimarães Rosa). Como sou apaixonada por Dom Quixote, me lembrei de Miguel (de Cervantes). E pensei em outros ídolos que levam a variante germânica ou britânica, Michael... Concordamos, ficou Miguel. Já sei, pela pressa no parto, que ele gosta de correr (Schumacher); que é bastante ligado em música e adora um balanço (Jackson); que é afeito a uma luta e é capaz de derrotar moinhos, o que provou chegando ao mundo de forma natural, a despeito de uma miomectomia e uma cesárea a que fui submetida anteriormente!

Acho que escolhi belos e adequados significantes para nomear meus pequenos.


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte III: É drama, aventura, mentira, comédia romântica.

Logo após o parto, fui possuída por um espírito maternal que simplesmente sabia o que fazer. Dá medo, susto, frio na barriga, desespero, vontade de chorar... Mas sobretudo dá alegria, muita alegria. E uma força sabe-se lá de onde.

Ainda no hospital, estava meio zonza, me situando, nos conhecendo e os adaptando a uma nova realidade que não há livro, blog, conversa, palestra, aula, nada que nos prepare. Mas eu fazia: trocava fralda, dava banho, amamentava, calava o choro, acalentava, cheirava e olhava sem parar, numa admiração sem tamanho!



O corte doía, mas estava sob efeito de medicação. Sou do tipo que tem sono com Paracetamol 750mg. Levantei algumas vezes durante a noite para trocá-la, para ver por quê chorava no bercinho de acrílico a meu lado, para ir ao banheiro. E o corte doía, e a movimentação era difícil, os movimentos inseguros, acho que ainda por efeito da anestesia, que demorou muito a passar completamente.

Saímos do hospital no dia seguinte, sob protestos da pediatra, que achou cedo demais por ter sido uma cesárea. Odiei o pós-parto da cesárea. Achei muito incômodo! Não tomei a quantidade de analgésico prescrita, pois já me sentia cansada e sonolenta sem remédios. Dia e noite são apenas conceitos no puerpério.

Fiquei completamente zureta, mas o que mais me lembro dos primeiros dias são a alegria de ter aquela bebê comigo, e o incômodo da recuperação da cirurgia. As memórias são meio embaçadas, mas são essencialmente boas.

No hospital, estamos sob efeito de drogas e contamos com a ajuda da enfermagem. Em casa a coisa é diferente! Tive muita ajuda, cooperação e compreensão. Tive a tia Naná (estou devendo um post sobre ela, que merece um post!) em casa por dez dias. Ela havia curado nem sei quantos umbigos; dado não sei quanto primeiros banhos; trabalhava a noite e não se incomodava em ficar com ela de madrugada; me ensinou a colocar casca de mamão no bico do seio que rachava, o que me aliviou sobremaneira; sabia fazer massagens para as cólicas da Alice e para as minhas pernas inchadas. Moro ao lado dos meus pais, o que me permitiu o luxo de não fazer almoço por mais de um mês. Com tudo isso, e com Dudu participando ativamente (sobretudo assumindo as noites), tive um puerpério confuso, como sói ser, mas bem mais tranquilo do que pintavam mães já experimentadas com quem conversara.

A cada dia, ia descobrindo que é bem mais fácil do que dizem. Ia descobrindo que, quando a maternidade é consoante com o desejo, a gente sabe, sim, o que fazer. Faz por instinto, faz sem saber como, experimenta, erra, mas no fim dá certo.

A pediatra também nos ajudou muito! Contávamos muito com ela e seguimos ao máximo suas orientações, a despeito de todos os pitacos de todo mundo, que sempre sabe mais do que a gente sobre como criar nossos filhos. Não lemos livros, não fizemos cursos de casal grávido - até agendamos dois, mas não comparecemos a nenhum. Agimos conforme Alice foi nos ensinando. Fomos aprendendo os três juntos, como ser uma família. E viramos uma família-cooperativa.



Um outro bebê já fazia parte dos planos e já sabíamos mais ou menos para quando queríamos. Sobre ele escreverei nos próximos posts desta série.


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O salpicão da vovó e a alimentação das crianças

Se eu for condenada à morte e tiver que escolher uma última refeição, escolho o salpicão da vovó. Ele é totalmente feito em casa - peito de frango cozido e desfiado a mão, cenoura picada e cozida, batata picada e frita. Nada comprado já processado, congelado ou industrializado.

A vovó Elza, agora mais conhecida como vovó Bisa, é bastante conservadora em seus hábitos, DIY de raiz. Acha frango já desfiado e congelado um horror, batata palha de saquinho é o mesmo que isopor, e desconfio que só usa óleo porque banha de porco não é lá muito fácil de se conseguir atualmente.

Enquanto pessoal está numa onda retrô de resgate do vinil, ela nunca o abandonou... Sempre ouviu seus Roberto Carlos, Noel Rosa e os 372 volumes do Aquarela Brasileira, do Emílio Santiago, na boa e velha bolacha, em seu aparelho de som 3 em 1 - rádio, vinil e fita K7 (double deck)!



Vovó Bisa, no entanto, nunca se preocupou muito com o fator saúde, no que diz respeito à alimentação. Já mencionei aqui que ela chegou mesmo a dar iogurte e pururuca à Alice.

Desde que engravidei, passei a cuidar mais da alimentação e a me preocupar mais com o que compro e cozinho, evitando ao máximo os industrializados e, como a vovó Elza, procurando fazer a comida o mais caseira possível.

Adoro cozinhar, embora deteste a preparação para a "feitura" propriamente dita. Não gosto de descascar, picar, lavar... Seria tão bom se tivesse alguém para fazer isso tudo, e ainda acondicionar os alimentos, da maneira mais adequada, já nas porções a serem utilizadas! Só tirar da geladeira e cozinhar. Não comprar picado, como alguns supermercados já oferecem, mas ir lá, escolher, comprar e entregar para alguém "processar" e entregar no ponto de ir para a geladeira ou freezer.

Quando fazia papinha para a Alice, eu fazia esse trabalho uma vez por semana, e ainda cozinhava os tubérculos, deixando-os já amassados, e cozinhava também as carnes. A cada dia, era só escolher uma combinação, de acordo com o que a pediatra orientou: um tubérculo (mais tarde podia ser substituído por arroz ou feijão), uma verdura, um legume, uma carne.

Bem, voltando ao salpicão da vovó Elza... Em que pese ser delicioso, não é exatamente das coisas mais saudáveis. Em sendo um dos meus pratos favoritos, faço-o de vez em quando. Bem raramente, porque ainda prefiro o da vovó que, sempre que peço, prepara pra mim (YAY!).

Para oferecer às crianças, acabei tentando uma versão mais saudável: apenas refoguei a cenoura, deixando-a menos cozida e, a grande vilã, que é a batata frita, preparei no forno, com bem pouco azeite. Piquei como minha avó faz, ferventei, dei um banho de água gelada, espalhei bem em um tabuleiro e pus um pouquinho de azeite. Ficou igualmente crocante! Basta ter o cuidado de sacudir o tabuleiro de vez em quando, para dourar por igual.

Aí está a base:


Basta adicionar os ingredientes que mais lhe agradem - passas, milho, azeitona... Eu gosto de colocar ervas, como salsinha ou manjericão. Para a Alice, sirvo sem molho; mas para nós adultos, acrescento a tradicionalíssima maionese, que tem só 40 calorias a colher. ;)

Não é o da vovó, mas foi aprovado por unanimidade por aqui!