segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte IV: A preparação.

Adoro ter irmãos. Desde muito nova, havia decidido ter mais de um filho. Planejamos ter dois e não queríamos uma diferença de idade muito grande.

Em março de 2013, Alice tinha um ano e dois meses, parei de amamentar. Queria um ou dois meses de folga - tomar um vinho em um jantar, por exemplo - para então começar as tentativas de engravidar de novo. Meados de julho, sofri um aborto espontâneo. Estava de sete semanas.

Tristeza, um monte de dúvidas, insegurança... E medo. Tinha colocado na cabeça que, se não engravidasse até o fim do ano, não iria mais tentar - por causa da idade, pela propensão a desenvolver miomas (colocada na minha cabeça pela GO da época em que os descobri). Comecei a pensar em adoção. Apressada? Eu?!

Em outubro, novo teste positivo. Mesmo médico. Iniciamos o pré-natal. A gravidez ia muito bem... Exames de sangue, ultrassonografias. Tudo tranquilo, tudo ótimo.

Pela metade da gestação, comecei a pensar mais no parto. Pensava se, mesmo tendo que me submeter a outra cesárea, a experiência do parto não poderia ser menos fria, menos orquestrada.

Foi aí que tudo começou a mudar. As consultas de pré-natal e as conversas com o médico apontavam para uma nova cesárea agendada. Eu não tinha expectativa de um parto normal. Não após uma miomectomia e uma cesárea, justificada por tal cirurgia anterior.

A cesárea em si, sequer me incomodava, apesar de ter odiado o pós-operatório. Porque, sim, é um pós-operatório, em pleno puerpério. Mas tudo bem... Havia indicação clara para cesárea. Mas não havia indicação para não entrar em trabalho de parto, para ter uma experiência menos asséptica de parto, havia? Era uma pulga atrás da orelha. Dudu e eu começamos a falar disso.

Conversei muito com uma amiga, Daniela, que vivenciou um parto humanizado pós cesárea. Essas conversas foram muito esclarecedoras e me levaram a um monte de pesquisas e leituras, a mais conversas, a ver "O renascimento do parto", a ficar mais tolerante com o ativismo nesse sentido e a perceber que existe um "ativismo esclarecido", rsrsrs. Eu havia conhecido mulheres intolerantes, que julgavam, que pouco atuavam efetivamente, mas que sempre tinham uma crítica na ponta da língua. Mulheres que, sob o discurso de "empodaramento", pareciam querer mesmo é se apoderar do parto alheio.

Essas conversas com a Daniela me levaram a um outro médico. Um profissional com um discurso e, principalmente, uma postura tão diferentes, que mudaram completamente o rumo das coisas. Comecei até mesmo a vislumbrar um parto normal.

Saímos da primeira consulta com esse médico dispostos a viver uma experiência completamente diferente, ávidos por novas informações, com os olhos mais abertos. E também com a música de abertura do "Baywatch" na cabeça... Porque o Dr. Lucas parece recém chegado de uma temporada no rancho de Laird Hmilton no Hawaii.

Marcamos com ele de ir conhecer o Hospital Sofia Feldman e, durante a visita, já estava decidido que o parto seria ali. Já era um caminho sem volta. A cada nova consulta com o Dr. Lucas, mais informações e maior a noção do absurdo que vivemos no parto da Alice. Se o parto do Miguel seria normal ou cesárea, ainda não sabíamos, mas seguramente seria um parto humanizado.

O médico reforçou uma indicação que a Daniela já havia nos dado, de uma enfermeira obstetra. Trocamos alguns emails antes do encontro com sua equipe. A Míriam me informou que, a despeito da confiança do Dr. Lucas na possibilidade de um parto normal, a literatura (ao menos no Brasil) aponta que cirurgias uterinas (exceto cesáreas) prévias são indicação para parto cesáreo. Chegamos a questionar a necessidade de contratar a equipe.

Conversando pessoalmente, chegamos ao consenso de que o ideal seria, sim, ter o acompanhamento da equipe durante o trabalho de parto, nos dirigir ao hospital mais cedo do que normalmente as parturientes vão, e ir acompanhando mais de perto o TP. Qualquer intercorrência, o bloco estaria do outro lado do corredor.

A Míriam me enviou resumos de artigos americanos, que corroboravam o que o Dr. Lucas vinha dizendo sobre a possibilidade de parto normal pós miomectomia. Assisti a um monte de vídeos indicados pelo médico, até não aguentar mais ver vaginas de outrem e quase desistir de seguir assistindo quando uma mulher pariu cercada por golfinhos... Foi "alternatividade" demais pra minha cabecinha "meio intelectual, meio de esquerda"; busquei muita informação em blogs; li muitos relatos de parto; fiz duas sessões de fisioterapia com a Sabrina, também indicada pelo Dr. Lucas, para preparar o períneo e aprendermos, Dudu e eu, técnicas de alívio da dor durante o TP (aliás, indico demais para quem quer um parto natural). Mesmo com todo o arsenal, confesso que não estava tão certa da possibilidade de um parto normal.

Reclamei de ter de escrever um plano de parto, sob o argumento de que, se queria algo menos planejado, pra quê escrever um plano? Escrevi mesmo assim, e vi o quanto ele ajuda na preparação para o parto, no sentido de organizar o pensamento, sistematizar os desejos e vontades, avaliar o quão informada eu estava, ter noção do que ainda precisava preparar.

Mais uma vez, devo agradecer às ativistas de fato. Recorri a vários de seus planos de parto, que me levaram a novas informações e a entender o quanto poderia melhorar a experiência do parto para mim, para o Miguel e para o Dudu. Usei como modelo o da Dani, que havia me enviado por email. "Tucanei" menos do que imaginei, pois estava bastante decidida sobre a maior parte das coisas, e muito segura.

Na reta final, estava tranquila. Entrei de licença maternidade quando completei 37 semanas. Agora era esperar o tempo do Miguel, e não uma data específica na agenda. E essa espera, gente, é deliciosa!

Devo muito dessa sensação às pessoas que citei neste enorme post: Dudu, Dani, Lucas, Míriam e Sabrina. A força, a vontade e a busca parte da gente; mas ter esse apoio, ter em volta gente informada, acolhedora, tolerante, e que acredita que o parto é da vida, não um evento médico, é fundamental para dar segurança e leveza.

E, no próximo post, conto para vocês sobre o parto!


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