domingo, 4 de janeiro de 2015

Fale mais sobre isso!

Caso verídico:

Uma menina de 10 anos no restaurante com a mãe e o namorado desta pergunta: O que é virgem?

A mãe engasga, o namorado enfia a cara no prato e come com afinco. Depois de recuperar-se um pouco, ainda roxa, a mãe dá uma palestra de educação sexual.

Ao final, perplexa, a menina pergunta titubeante: E extra virgem?

A mãe, que já gastara seu melhor discurso, apela. Diz que não existe isso e pergunta de onde a menina tirou essa bobagem. Ao que ela responde: Tá escrito aqui no azeite.

Moral da história: Antes de responder aos questionamentos e demandas de sua criança, antes de interpretar suas afirmações, pergunte. Questione sempre!

Precisamos ouvir mais as crianças. Não apenas atender suas necessidades manifestas, responder suas perguntas, saciando-as. Precisamos questioná-las, incitar e tentar entender seu raciocínio. Deixá-las sem respostas prontas para que possam criar. E perguntar para que possamos entendê-las.



A linguagem é, por excelência, campo de desencontros.

A forma como a criança pensa difere da nossa. Ela apreende o mundo de outra maneira. Tudo é fonte potencial de elaborações e fantasias.

Muitas vezes, o que a criança afirma ou pergunta não é o que nos parece. Por isso, pergunte e vá induzindo a criança a suas próprias deduções, permitindo que ela construa a resposta. Não dê respostas prontas e, sobretudo, não as deixe sem respostas, criando mistérios.

As respostas que você não ajudá-la a construir, ela vai construir sozinha, permeadas pela fantasia e pela imaginação de uma mente ainda imatura e sem o escopo que um adulto tem para preencher lacunas.

No caso acima, por exemplo, um simples "por que?" teria levado a uma aula sobre produção de azeite que o namorado deu na sequência. A criança teria saciada sua curiosidade, sentido-se mais "sabida", e ainda teria ficado sem as caraminholas que certamente a mãe plantou em sua cabeça, quiçá despreparada para algumas coisas abordadas.

Devemos falar de tudo e qualquer coisa com as crianças. O momento certo é quando ela demonstra interesse ou a vida impõe a necessidade.

A criança perdeu alguém aos 2, 7 ou 11 anos? Este é o momento de falar sobre morte. Se, e somente se, ela se mostrar disposta e curiosa. Basta oferecer-se para conversar sobre o assunto e deixar que ela conduza o questionário. Jogue a isca, mas só puxe a linha se ela pegar o anzol.

A mesma lógica serve para qualquer tema.

A dificuldade está, quase sempre, em nós. Tudo o que precisamos fazer é ir criando a resposta junto com a criança, sensíveis a sua verdadeira questão e, claro, adequando linguagem e conteúdo à idade.

Se estiver muito difícil, pergunte "por que você quer saber?", "onde viu/ouviu isso?", "o que você acha?". Perguntas ajudarão a contextualizar a dúvida da criança. E não hesite em dizer "não sei" quando isso for verdadeiro.

Não desmereça ou desvalorize as afirmações e conclusões da criança. Apenas mostre-a que há outras maneiras de enxergar. Ajude-a a construir alternativas mais interessantes e saudáveis, usando a mesma metodologia das perguntas.

Acima de tudo, não delegue isso a profissionais. Até porque, se ele for bom e ético, não aceitará tal papel.

Nenhuma criança precisa de psicólogo para entender sobre morte, adoção, sexo e sexualidade, religião, violência, ciúme, separação ou qualquer outra coisa.

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