terça-feira, 26 de agosto de 2014

Dos partos que eu tive... - Parte II: ... E então veio Alice!

A cesárea agendada é algo bastante asséptico. Ainda no apartamento, me deram a camisola do hospital para me trocar e fui levada para o bloco. Meu marido chegaria depois, já paramentado, levando a câmera e o cd que preparamos com uma lista de músicas* para o momento.

Já no bloco, procedimentos pré cirúrgicos padrão - soro, aparelho para medir batimentos cardíacos, conversinhas da enfermagem para quebrar o gelo: é menino ou menina? Qual é o nome? Que lindo! Primeiro filho?

Vem o anestesista. Tenho pânico de agulha. Não é medo, nervoso... É pânico! Ele me manda sentar de pernas cruzadas e curvar pra frente. Os batimentos se aceleram, ele brinca, ri de mim e eu lá, esperando a terrível e mortal agulhada, pronta para pular da maca e sair correndo pelos corredores. Ele me manda deitar de novo. Por um segundo, penso que ele não deu a anestesia, porque eu estava tensa demais. Ele percebe minha confusão, ri de mim de novo e diz "viu? Não precisava sofrer tanto!".

Logo começa a testar o efeito da anestesia nas minhas pernas. Tudo preparado, vem o obstetra. Momento "O fantástico mundo de Bob" -  Me dei conta do ridículo da situação e o imaginei entrando na sala com luzes piscando, explosões e gelo seco, e uma música para dar o efeito dramático... Parecia um rock star entrando no palco. Juro.

Pensei que eu não deveria ser tão crítica assim. Eu estava prestes a ter um bebê e deveria estar mais emocionada. Mas o entorno, gente, o entorno não ajudava. Depois de me cumprimentar com brincadeirinhas do tipo "preparada?" e comentários animados de "vamos lá, vamos conhecer esse neném!", subiu o campo, eu já imobilizada, com as mãos amarradas, começaram os cortes. E com eles, as small talks entre a equipe.

Falaram sobre as férias de cada um, de quantas Alices tinham nascido no últimos mês. Quando estava já perto do momento de tirar a bebê, meu marido foi chamado e entrou. Entregou o cd para alguém da enfermagem e se posicionou perto da minha cabeça, conforme orientado.

Algumas piadinhas sobre como seria a trilha, pois Eduardo havia comentado que só haveria rock na lista. O GO achou a primeira música calma, tava esperando um barulheira. E quando começou a segunda, disse: é nessa que ela nasce!

Foi aleatória. Não escolhemos uma música específica para o nascimento. Ela nasceu ao som de The Cure - The perfect girl. Auspicioso, não? Nos olhamos e sorrimos. Me lembro de ter pensado: Serendipity!

Nesse momento fiquei mais ansiosa. Queria vê-la logo. E então o GO levantou-se e nos mostrou, comentando que era pequenininha. Incentivavam o Eduardo a fotografar. Achei-a linda! Só queria pegá-la, mas estava com as mãos amarradas. O cordão foi cortado, aspiraram e ela foi levada para ser limpa e embrulhada. Tentava ver o que estava acontecendo, mas não era possível. Havia muita gente. Comentavam do choro forte, que estava tudo bem, que parecia com o pai...



Não sei exatamente quanto tempo depois ela foi entregue ao Eduardo e, só então, colocada sobre meu peito. Mais fotos. Não conseguia vê-la muito bem, imobilizada daquele jeito. Ela embrulhadinha. Queria muito cheirá-la... Que instinto é esse que as mães têm de cheirar? Não pude tocá-la ainda... Mas ela era linda! E saudável! E todos diziam que estava tudo bem, que ela estava ótima, que tinha corrido tudo bem. Então, isso era o que importava.

Foi levada para pesar, medir e receber os procedimentos padrão. Eduardo acompanhou e foi incentivado a fotografá-la na balança.

A sala esvaziou-se um pouco. Enquanto me costuravam, a equipe seguiu conversando sobre a trilha que havíamos escolhido, sobre viagens, sobre o parto anterior. Alguém entrou e perguntou algo ao GO sobre a reserva de outra sala no bloco. E eu esperava. Era angustiante não poder estar com ela, para que procedimentos padrão fossem seguidos. Comigo e com ela.



Fui levada para outra sala, onde várias outras puérperas esperavam também para receber seus bebês e serem levada para os apartamentos. Falaram para eu dormir um pouco, que logo trariam meu bebê. Não consegui.

Não sei quanto tempo depois trouxeram Alice, já com as roupinhas dela, enroladinha na manta. As avós haviam feito confusão e fiquei brava porque ela estava com a roupa de sair da maternidade, não a que eu havia escolhido pra ser a primeira roupinha. Achei-a linda de novo!

A enfermeira colocou-a sobre mim, posicionou-a no meu peito e ela imediatamente começou a mamar. Linda! E gulosa. Recebi um monte de instruções e orientações, acho que sobre amamentação. Não ouvi nada. Só queria olhar, acariciar, sentir o cheirinho... Agora ela estava comigo! "And nothing else metters"...

De tudo o que me foi dito, só entendi que logo iríamos para o apartamento.

Em algum tempo, nos buscaram. E ela nunca mais saiu de perto de mim!

* Segue a lista de músicas cuidadosa e carinhosamente escolhida para a ocasião. Só tocou até a faixa 8 (mas já ouvimos zilhões de vezes depois disso):

1 - Doing the unstuck - Cure
2 - The perfect girl - Cure
3 - It happened today - R.E.M.
4 - The unthought known - Pearl Jam
5 - Wishlist - Pearl Jam
6 - La la love you - Pixies
7 - Times like these - Foo Fighters
8 - Snow (Hey oh) - RHCP
9 - Like a blister in the sun - Violent Femmes
10 - Island in the sun - Weezer
11 - You're the storm - Cardigans
12 - Around the world - Daft Punk
13 - Safe from harm - Massive Attack
14 - Airbus Reconstruction - Portishead

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